Flash # 3 – Através do Espelho
Parte 3 - Ponto de Retorno
Escrito por Daniel Násser
Ano de 2021.
Um bar na zona mais abandonada de Central City, um lugar freqüentado por uma escória perigosa de larápios e por jovens em busca de drogas. Neste lugar sombrio um homem com barba por fazer senta-se numa mesa ao fundo, olhos de assassino, em silêncio, remoendo suas lembranças e memórias de um fracasso que o destruiu. Eobard Thwane bate com força o copo de bebida na mesa e esmurra a madeira, sussurrando para si:
- Poderia ter sido eu... – sua voz era sufocada, pastosa, as silabas mal alcançando o exterior – Mas ele me roubou... O Flash se tornou o herói que eu poderia ter sido... E há vinte anos estou afogado no meu ódio, desejando por um momento que pudesse tê-lo destruído... Um herói, eu podia ter sido... herói...
Laboratório Vlx, Central City.
Eobard Thwane nunca se desligou de seu emprego, embora depois que o Traje de Aceleração de Velocidade, seu maior projeto, foi roubado, esteve ligado apenas a estudos menores e projetos sem importância. Ele sabe que todos sussurram pelos cantos o seu fracasso, seu infortúnio de ser o provedor do traje do maior herói de Central City, membro da gloriosa Liga da Justiça, um homem que não sabe ao menos quem é. Um gosto amargo toma conta de sua boca. Mas essa invenção em especial lhe traz muito interesse: uma plataforma temporal, por onde poderia se viajar para um passado mais imediato. Isso poderia mudar tudo. Sabia que se voltar no tempo fosse possível, mudaria sua vida. Ficou a observar. Uma pequena lebre é colocada sobre a plataforma numa gaiola de metal. O animal parece assustado, debatendo-se contra os limites de sua prisão. No instante em que a máquina é ativada um feixe de energia atinge a plataforma e todos ficam cegos por um instante. No momento em que a luz retorna a seus olhos eles vêem o fracasso: a gaiola retorcida e o esqueleto incinerado do pequeno animal. Todos põe as mãos no rosto, menos Thwane. Ele sabe o que falhou. “Idiotas”, pensa consigo, “precisam de um pára-raios para a energia ser redirecionada para a corrente fluxo-temporal”. Riu sozinho.
A noite cai em Central City, quando uma figura que procura se esconder nas sombras. Silencioso passa por cada alarme do laboratório Vlx e pela segurança eletrônica até alcançar a Plataforma Temporal.
- Finalmente... – Eobard Thwane vasculha sua mochila em busca de um vestimenta bem alojada no fundo da bolsa – Aqui.
Um traje amarelo, igual ao Traje de Aceleração de Velocidade do Flash foi vestido pelo professor. Este havia sido seu primeiro protótipo da roupa, mas falhara nos teste. Porém agora, depois de alguns ajustes de ultima hora, Thwane confiava que o traje fosse capaz de servir para ser o processador da energia da plataforma.
- Tem que dar certo – ele diz, primeiro baixo até que seu grito explode pelo prédio inteiro – Tem que dar certo!!!!
Thwane ativa a plataforma temporal e toda descarga de energia é filtrada por seu traje, mas não da forma que ele esperava, atingindo seu corpo e seu cérebro num nível molecular dando-lhe uma grande velocidade, que o possibilitaria viajar no tempo. A grandiosa explosão da Plataforma atirou seu corpo longe e destruiu todo laboratório. Dos escombros ergue-se a figura do Professor que sorri em meio às chamas.
- Agora minha mente esta clara, como jamais esteve... – ele sussurra em seu delírio – Sei o que fazer: Vingança.
Aberdeen, Escócia, 1984.
Um garoto arrasta um corpo ensangüentado até um riacho e joga o corpo para ser devorado pelos peixes. Pouco antes o garoto fora quase violentado pelo seu companheiro morto. Thwane assistiu a tudo, mas não interferiu. Quis saber se seu ódio tinha mesmo poder. O professor aproxima-se do jovem Evan McCulloch, que salta assustado para trás.
- Parabéns. - disse ao garoto trêmulo – Não esperava menos de você.
- Quem é você? – o jovem está assustado.
- Só um amigo. Seu único amigo, na verdade. Porque depois disso tudo, acha que Eve McCulloch ainda vai lhe querer entre os seus?
Evan baixou a cabeça, observando o chão. Thwane imaginou o que se passava por sua cabeça: estava sozinho, abandonado a própria sorte.
- Mas você é um bom garoto. – disse para arrancá-lo de sua solidão e fazê-lo seguir seu plano – E vai ser muito útil pra mim no futuro. Um futuro não tão distante. Só precisa aprender uns truques. E vai aprender.
Thwane tocou a cabeça do jovem Mestre dos Espelhos e sua mão vibrou um instante através de seu cérebro deixando-o desacordado por uns instantes.
- O que você fez comigo? – Thwane viu o garoto cambalear, atordoado.
- Dei a você o poder necessário. – sorriu, e nem o capuz pôde esconder seu contentamento – Vai usá-lo e aperfeiçoá-lo durante os anos até que chegue a hora...
- A hora de quê?
- Você saberá quando vir o relâmpago e o trovão que anunciará a guerra...
Thwane observou Evan em silêncio.
- Mas... quem é você?
- Vai saber quando for hora...
Thwane desapareceu das vistas do rapaz neste instante, mas ficou a observá-lo de um morro próximo. Como era ambicioso o jovem Mestre dos Espelhos. Desenvolver um dom é uma arte e vê-lo utilizá-lo pela primeira vez foi a glória. Ele seria o instrumento perfeito para sua vingança. O jovem afunda no mundo dos espelhos diante dos olhos animados do Professor.
- Muito bom, Mestre dos Espelhos.
Central City, 2001.
O Professor Eobard Thwane se observava em seu laboratório, animado a construir sua maior ambição: o Traje de Aceleração de Velocidade. Tão jovem, tão repleto de planos para o futuro... Futuro que o Flash iria destruir assim que roubasse seu projeto. Precisava impedir e já era hora de ir cobrar o Mestre dos Espelhos seus favores.
Galeria dos Vilões, 2001.
O Professor observa McCulloch preparar os marginais que habitam o lugar para uma guerra. “É melhor do que eu esperava”, diz para si mesmo. Escondido nas sombras aguarda, até que todos se vão.
- Parece feliz, Mestre dos Espelhos... – diz Eobard, aproximando-se.
- Você... – Evan deu dois passos para trás, em direção a parede – Mas faz muito tempo, não é possível...
- Dezessete anos, McCulloch. Voltei para cobrar minha parte do acordo.
- Quem é você?
- Não importa. Tudo que precisa saber é que seu plano é bom, mas não perfeito. Saque, guerras urbanas, caos. Só isso não basta precisa mostrar a eles seu verdadeiro potencial...
- Como?
Thwane estendeu um papel amarelado ao Mestre dos Espelhos, algo que havia sido feito há muito tempo, já contando com seu dom.
- Impossível... – Evan não crê no que vê no papel – Eu não posso fazer isso...
- Sim, pode. – Thwane riu baixinho – Os espelhos deixe comigo, estarão posicionados nos pontos chave. Você vai dar a esta cidade um show como ela jamais viu...
- Que se dane – resmungou McCulloch, e Thwane sentiu que neste ponto ele partiu para o tudo ou nada – Hora do show!
- Isso! – diz o Professor se afastando pelos túneis – Agora eu vou cuidar do Flash.
Laboratório Vlx, Central City, 2001.
É Madrugada quando Barry Allen chega ao laboratório onde é guardado o Traje de Aceleração de Velocidade e, vibrando suas moléculas através do vidro de contenção, consegue apanhá-lo. O observa por um instante e respira fundo. “Preciso dele, se não posso morrer”, diz para si.
- Ladrão! – diz uma voz surgida do nada – Em que, roubar este traje te fará diferente dos vilões que você irá enfrentar?
Barry vira-se em busca de quem o observava e, sem pensar mais, veste o traje antes que possam se passar mais que dois segundos.
- Quem é você? – grita Barry, para o vazio do laboratório.
- Eu? – uma risada ecoa no ar – Eu criei este traje, passei vinte anos planejando minha vingança contra o homem que me roubou e destruiu por inteiro, o grande herói escarlate, eu sou seu reverso. Flash Reverso.
Barry nada pôde entender, mas antes que pudesse argumentar qualquer coisa, algo aconteceu: a cidade inteira de Central City mergulhou numa escuridão gelada e silenciosa. Allen abandonou o laboratório e percorreu as ruas vazias e não alcançou nada além de Central City, por mais que tentasse.
- O que está acontecendo? – disse para si.
- Sua cidade amada está engarrafada, Flash, na terra dos espelhos, de onde não se pode fugir. Bem vindo ao meu pesadelo...
Continua.
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